Semana Santa de Óbidos

História

Óbidos continua a ser palco de celebrações de acontecimentos de índole histórico-religiosa. Evocando a Paixão e a morte de Cristo, a Semana Santa atrai à Vila de Óbidos muitas pessoas, unidas pela devoção ou simplesmente por curiosidade cultural e turismo religioso.

Despertando o maior interesse de ponto de vista cultural e turístico, a Semana Santa desde cedo se revelou como o melhor “cartaz” de Óbidos e inegavelmente, as mais lindas e impressionantes cerimónias religiosas do seu género no Oeste. Por este motivo, em 1963, por intermédio do então, Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, Dr. José Venâncio Paulo Rodrigues, estas cerimónias foram incluídas no programa de promoção turístico “Avril au Portugal”, assumindo uma dimensão que começava a ultrapassar as fronteiras do país.

Com a recente e gradual recuperação das cerimónias da Semana Santa, a comunidade obidense, desde a edilidade aos particulares, motivados e empenhados em manter tradições, tem sabido recolher e reflectir sobre os testemunhos que se vão transmitindo de geração em geração, não só a título pessoal, mas também através de fotografias, escritos e recortes de jornais. Muitos dos actuais conhecimentos sobre as cerimónias tradicionais em Óbidos foram coligidos e fazem parte da colecção privada de Albino de Castro e Sousa (…) sendo da sua autoria a actual versão do Auto do Descimento da Cruz, tradição ancestral que remonta, pelo menos, a meados do século XVII.

Este “cartaz” de Óbidos tem o seu início na realização da secular Procissão Penitencial da Ordem Terceira de S. Francisco, vulgarmente conhecida pela procissão da rapaziada, preparando o caminho interior da Quaresma. Nesta manifestação religiosa, desfilam nove andores exuberantemente decorados com flores, onde se exibem alguns dos principais santos da devoção franciscana (quase todas estas imagens datam de 1849). Não se trata afinal de um revivalismo folclórico, mas sim duma manifestação religiosa com raízes profundas e em que se expressa, mais uma vez, o convite de São Francisco de Assis, para a participação dos cristãos numa comunidade despida de valores supérfluos, sobretudo em período de recolhimento, como a Quaresma.

No Domingo de Ramos, num ambiente de oliveira, alecrim, rosmaninho e verdura pelo chão, tem lugar a majestosa Procissão do Senhor Jesus dos Passos, que percorre algumas ruas tortuosas, fora e dentro das muralhas de Óbidos, parando junto de pequenos evocativos aos Passos da Paixão, culminando na Igreja da Misericórdia, onde se costuma encontrar armado um Calvário, representando a Montanha de Palestina, nas proximidades de Jerusalém onde Jesus sofreu a crucificação.

Este cortejo é aberto por uma figura tradicional, o “gafaú”, que caminha descalça, com a cabeça envolvida por um pano e transporta um instrumento musical, conhecido por “serpentão”. Esta figura representa o carrasco, que caminha à frente da procissão que acompanha o condenado anunciando à multidão que a aproximação do mesmo, está para muito breve.

O Auto do Descimento da Cruz culmina com a comovente Procissão do Enterro do Senhor, realizada sem qualquer iluminação, a não ser os archotes que ardem nas mãos de jovens que se colocam em pontos-chave do percurso processional. Esta cerimónia não estando determinada pelas rubricas do Missal Romano, estabeleceu-se em Portugal pela devoção dos fiéis no século XV e princípios do século XVI. Como manifestação cultural, é considerada o ponto alto das solenidades.

No Domingo de Páscoa assiste-se à Procissão Eucarística, com as representações das paróquias e seus lugares, e em que, nos anos sessenta, abria com o andor do Senhor Ressuscitado, magnífica imagem que data do século XVII e que se venerava na Igreja S. Tiago do Castelo.

(texto retirado do livro: RODRIGUES, Carlos Orlando, “A Semana Santa em Óbidos – Colecção e Recortes de Jornal de Albino Castro e Sousa”, Óbidos, Abril de 2004);

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